sábado, 25 de fevereiro de 2017

"Pesadelo na Cozinha" traz proposta fiel ao original.

A Band continua a aproveitar ao máximo o sucesso do "Masterchef Brasil", e com razão. Em um momento de crise em pleno ano do cinquentenário, o reality gastronômico é o único sucesso do canal em anos. E mesmo com tantas temporadas, o programa mostra que tem muito gás pra gastar.

Uma prova disso é a primeira estreia que a emissora lançou neste ano. "Pesadelo na Cozinha" trás Erik Jacquin no comando, o chef conhecido pelo seu jeito bonachão e ácido como jurado do "Masterchef" e que ganhou o carinho do público.

O novo reality é a versão brasileira do "Kitchen Nightmares", conhecido aqui por já ter sido exibido em canais pagos como o GNT e o Fox Life. "Kitchen Nightmares" mostra o famoso chef Gordon Ramsey atendendo a pedidos de ajuda de donos de restaurantes cujos estabelecimentos estão à beira da falência. E em meio aos mais diversos tipos de adversidades, ele consegue reerguer o lugar.

Jacquin tem a mesma missão no "Pesadelo na Cozinha". Ele ajuda bares e restaurantes a saírem do sufoco que eles mesmos causaram. Ao final, o estabelecimento ganha um novo visual e tudo parece estar bem. Mas para quem já assistiu a versão original, percebe um aspecto interessante em que a versão nacional se assemelha muito.

Nos cinco episódios já apresentados, pudemos ver que o motivo principal para os restaurantes estarem em péssima situação são os próprios donos. Muitas vezes orgulhosos, não conseguem admitir que eles são os verdadeiros culpados e não aceitam mudanças. Tanto que pudemos presenciar várias divergências entre eles e Jacquin (sendo que foram eles que se inscreveram para o programa). Com isso, os funcionários ficam desmotivados, e nada mais dá certo.

Erik Jacquin está impecável na apresentação. E arrisco dizer que tem se saído muito melhor que Ramsey. O chef francês é rígido nas broncas (merecidas, aliás), e sempre tem comentários sensatos sobre a situação dos estabelecimentos. Não grita e nem vocifera palavrões. Postura mais que correta e nada exagerada.

O reality não vai nada mal na audiência, pelo contrário. Após o fim das férias escolares, a atração foi a única das noites de quinta à não cair nos índices. Mesmo competindo com a tradicional "A Praça é Nossa", a prova do líder do "BBB17" e a excelente décima temporada do "Amor & Sexo", tem tido um ótimo desempenho nos números para o padrão da emissora. E em pouco tempo, essa temporada de estreia já teve momentos marcantes.

No primeiro episódio, marido e mulher comandavam o restaurante. Ele o gerente e ela a chef. Ele foi grosseiro diversas vezes com a esposa e até com o próprio pai. Todos acabavam desmotivados e o lugar era prejudicado. Ao final, Jacquin fez as vezes de conselheiro amoroso e tudo parece ter dado certo.

Algo parecido aconteceu no terceiro episódio. A esposa do dono do restaurante fez a inscrição para o programa, já que ele se recusava a pedir ajuda. Orgulhoso e preguiçoso, o marido não concordava com as ideias do chef e chegou a abandonar a cozinha no meio do expediente. Momento "SOS Casamento" entrou em cena novamente.

O segundo episódio foi em um restaurante de comida árabe. Tanto o dono quanto o chef, um refugiado sírio, eram grosseiros e não se entendiam. O quarto foi em um restaurante japonês, onde os três sócios não se entendiam, e acabavam sobrando para o único garçom do estabelecimento. Jacquin promoveu uma dinâmica à lá prova do BBB para que o trio se resolvesse.

Mas o melhor episódio de fato aconteceu nessa terça (21). Uma hamburgueria cujo problema maior não era a gerência, mas sim o atendimento. O único garçom era um sujeito folgado e sem educação que fazia o que bem entendia no trabalho. Era grosseiro com os clientes, gritava e fugia sempre que não aguentava a pressão. O dono o mantinha por pena, mas no final do episódio a paciência esgotou e ele acabou sendo demitido de vez.

O ponto negativo é a péssima estratégia da emissora em alavancar os índices. As chamadas anunciam o programa para as 22h30, mas todos sabemos que nunca começa nesse horário. O atraso chega a ser até de meia hora. Antes disso, a Band escala "Mr. Bean", sempre com os mesmos episódios que são picotados e cortados bruscamente. Falta de respeito com o telespectador.


Mas mesmo com esse problema, "Pesadelo na Cozinha" é uma ótima opção para as noties de quinta-feira. Se a Band souber aproveitar o sucesso sem desgastar, certamente terá um produto de boa longevidade, assim como o "Masterchef".

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

"Carinha de Anjo" mostra evolução do SBT no gênero

Pessoalmente tenho boas lembranças da novela mexicana "Carinha de Anjo" exibida pelo SBT. Não cheguei a ver em sua exibição original em 2001, mas em 2003 quando foi reprisada. Lembro das peraltices de Dulce Maria (Daniela Aedo), que sempre deixavam seu "papi" Luciano (Miguel de León), da Irmã Cecília (Lisete Morelos) e seu bordão "Pelas chagas de Cristo!", da excêntrica Tia Perucas (Nora Salinas), da divertida e comilona Irmã Fabiana (Adriana Acosta), da inesquecível Madre Superiora (Liberdad Lamarque) e de vários outros personagens. Fez parte da minha infância.

A decisão de fazer uma versão brasileira foi bem acertada. "Carinha de Anjo" tem cumprindo muito bem a missão de dar continuidade à faiza de novelas infanto-juvenis do SBT. A adaptação assinada por Leonor Correa mostrou que a dramaturgia do canal evoluiu tanto em questão de texto quanto na direção. Lógico que o maniqueísmo e os diálogos mais simples, além do colorido da cenografia ainda permanecem na atual novela. Faz parte do estilo e não vai mudar.

Mas é notável um melhor acabamento nesses aspectos. Os diálogos deixaram de ser tão didáticos e os cenários menos "plastificados". E isso se deve a boa escolha em colocar Leonor Correa e o diretor Ricardo Mantoanelli à frente da obra. Deu um respiro para a faixa, há anos nas mãos de Íris Abravanel e Reynaldo Boury, dupla que consolidou o gênero e agora tem o merecido descanso para se preparar para a próxima novela.

Passados 60 capítulos, é possível ver alguns pontos positivos.O principal é a escolha da protagonista. Lorena Queiroz foi um verdadeiro achado. A fofíssima atriz de 6 anos que interpreta Dulce Maria demonstra desenvoltura e talento de fazer inveja à muita gente grande. Outra escolha acertada foi a participação especial da atriz mexicana Lucero, que interpreta Tereza. Mãe falecida de Dulce que aparece nos sonhos da menina. As cenas com as duas na casinha de bonecas são sempre lindas.

Os atores Carlo Porto e Bia Arante que vivem respectivamente Gustavo e Cecília, casal principal da trama, tem o maior desafio. E até aqui, estão convencendo. Carlo tem uma atuação correta, porém é preciso melhorar a dicção. E Bia também tem se saído muito bem na pele da Irmã Cecília. A história da personagem traz altas referências ao filme "A Noviça Rebelde".

Outra que também tem um desafio e tanto nas mãos é Priscila Sol que vive Estefânia, a icônica "Tia Peruca". Muitos tem reclamado do jeito sério demais da personagem, o que na opinião deste humilde blogueiro, é uma injustiça. Quem acompanhou a versão original sabe que Estefânia mesmo sendo excentrica, nunca foi de fato uma personagem caricata. E Priscila tem dado o tom correto ao papel. É claro que é estranho ver uma figura que usa uma peruca da mesma cor que toda a roupa e todos acharem normal, mas faz parte da fantasia.

Karin Hills, que vive a Irmã Fabiana, é um dos grandes destaques da novela. A ex-Rouge é muito carismática e diverte com a atrapalhada noviça, que mescla momentos de humor e musical ao melhor estilo "Mudança de Hábito". Eliana Guttman também tem feito um ótimo trabalho como a Madre Superiora, apesar da personagem se mostrar rígida demais..

É interessante notar as diferenças em comparação à versão mexicana. Como por exemplo a existência da personagem Nicole (Dani Gondim). Se na versão original, ela era apenas uma moça ambiciosa que não chegava a fazer maldades e não tinha tanta importância na trama, nessa ela ganhou maiores ares de antagonista e tem até um núcleo próprio: com a mãe Haydee (Clarice Nisker), uma socialite falida caricata que usa a filha para voltar ao status de antigamente e o irmão mal carater Flávio (Dudu Pelizzari) que rouba dinheiro para coisas obscuras.

Outros núcleos também foram inseridos. Como o da youtuber Juju Almeida (Maísa Silva) e de sua mãe Rosana (Ângela Dip). Maísa reforça sua imagem carismática e forma uma ótima dobradinha com Ângela, atriz que há anos merecia um trabalho de destaque na televisão. Núcleo que se integra ao de Zeca (Jean Paulo Campos), jovem aspirante a cantor sertanejo e filho de Inácio (Eddie Coelho), caseiro do internato. Esse núcleo já deixa a desejar. Jean é um ator querido do público, mas sua atuação é fraca e seu sotaque caipira é forçado. Seu maior desafio é se livrar da imagem de "Cirilo" (que era reforçada pelo próprio SBT).

Também vale destacar a trilha sonora da novela. Músicas infantis famosas como "Lindo Balão Azul" e "Os Dedinhos", se juntam à clássicas cantigas como "Borboletinha" e "Atirei o pau no Gato". Lista de músicas bem escolhidas e coerentes com o clima que a trama quer passar.

Ao avaliar tudo o que foi ao ar até aqui, "Carinha de Anjo" é uma boa novela. A audiência não tem sido tão alta em comparação à estreia, o que é normal para um folhetim de pegada mais infantil que sucedeu duas novelas com pegadas mais adolescentes. Falhas existem, não teria como ser diferente. Mas percebe-se o empenho do SBT em deixar o desleixo conhecido em sua dramaturgia de lado. Até agora, a novela tem um bom ritmo, e a torcida é para que o SBT não invente de esticar a trama como fez com as anteriores, e que prejudicou a história das mesmas com longas barrigas.
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