segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

"Carinha de Anjo" mostra evolução do SBT no gênero

Pessoalmente tenho boas lembranças da novela mexicana "Carinha de Anjo" exibida pelo SBT. Não cheguei a ver em sua exibição original em 2001, mas em 2003 quando foi reprisada. Lembro das peraltices de Dulce Maria (Daniela Aedo), que sempre deixavam seu "papi" Luciano (Miguel de León), da Irmã Cecília (Lisete Morelos) e seu bordão "Pelas chagas de Cristo!", da excêntrica Tia Perucas (Nora Salinas), da divertida e comilona Irmã Fabiana (Adriana Acosta), da inesquecível Madre Superiora (Liberdad Lamarque) e de vários outros personagens. Fez parte da minha infância.

A decisão de fazer uma versão brasileira foi bem acertada. "Carinha de Anjo" tem cumprindo muito bem a missão de dar continuidade à faiza de novelas infanto-juvenis do SBT. A adaptação assinada por Leonor Correa mostrou que a dramaturgia do canal evoluiu tanto em questão de texto quanto na direção. Lógico que o maniqueísmo e os diálogos mais simples, além do colorido da cenografia ainda permanecem na atual novela. Faz parte do estilo e não vai mudar.

Mas é notável um melhor acabamento nesses aspectos. Os diálogos deixaram de ser tão didáticos e os cenários menos "plastificados". E isso se deve a boa escolha em colocar Leonor Correa e o diretor Ricardo Mantoanelli à frente da obra. Deu um respiro para a faixa, há anos nas mãos de Íris Abravanel e Reynaldo Boury, dupla que consolidou o gênero e agora tem o merecido descanso para se preparar para a próxima novela.

Passados 60 capítulos, é possível ver alguns pontos positivos.O principal é a escolha da protagonista. Lorena Queiroz foi um verdadeiro achado. A fofíssima atriz de 6 anos que interpreta Dulce Maria demonstra desenvoltura e talento de fazer inveja à muita gente grande. Outra escolha acertada foi a participação especial da atriz mexicana Lucero, que interpreta Tereza. Mãe falecida de Dulce que aparece nos sonhos da menina. As cenas com as duas na casinha de bonecas são sempre lindas.

Os atores Carlo Porto e Bia Arante que vivem respectivamente Gustavo e Cecília, casal principal da trama, tem o maior desafio. E até aqui, estão convencendo. Carlo tem uma atuação correta, porém é preciso melhorar a dicção. E Bia também tem se saído muito bem na pele da Irmã Cecília. A história da personagem traz altas referências ao filme "A Noviça Rebelde".

Outra que também tem um desafio e tanto nas mãos é Priscila Sol que vive Estefânia, a icônica "Tia Peruca". Muitos tem reclamado do jeito sério demais da personagem, o que na opinião deste humilde blogueiro, é uma injustiça. Quem acompanhou a versão original sabe que Estefânia mesmo sendo excentrica, nunca foi de fato uma personagem caricata. E Priscila tem dado o tom correto ao papel. É claro que é estranho ver uma figura que usa uma peruca da mesma cor que toda a roupa e todos acharem normal, mas faz parte da fantasia.

Karin Hills, que vive a Irmã Fabiana, é um dos grandes destaques da novela. A ex-Rouge é muito carismática e diverte com a atrapalhada noviça, que mescla momentos de humor e musical ao melhor estilo "Mudança de Hábito". Eliana Guttman também tem feito um ótimo trabalho como a Madre Superiora, apesar da personagem se mostrar rígida demais..

É interessante notar as diferenças em comparação à versão mexicana. Como por exemplo a existência da personagem Nicole (Dani Gondim). Se na versão original, ela era apenas uma moça ambiciosa que não chegava a fazer maldades e não tinha tanta importância na trama, nessa ela ganhou maiores ares de antagonista e tem até um núcleo próprio: com a mãe Haydee (Clarice Nisker), uma socialite falida caricata que usa a filha para voltar ao status de antigamente e o irmão mal carater Flávio (Dudu Pelizzari) que rouba dinheiro para coisas obscuras.

Outros núcleos também foram inseridos. Como o da youtuber Juju Almeida (Maísa Silva) e de sua mãe Rosana (Ângela Dip). Maísa reforça sua imagem carismática e forma uma ótima dobradinha com Ângela, atriz que há anos merecia um trabalho de destaque na televisão. Núcleo que se integra ao de Zeca (Jean Paulo Campos), jovem aspirante a cantor sertanejo e filho de Inácio (Eddie Coelho), caseiro do internato. Esse núcleo já deixa a desejar. Jean é um ator querido do público, mas sua atuação é fraca e seu sotaque caipira é forçado. Seu maior desafio é se livrar da imagem de "Cirilo" (que era reforçada pelo próprio SBT).

Também vale destacar a trilha sonora da novela. Músicas infantis famosas como "Lindo Balão Azul" e "Os Dedinhos", se juntam à clássicas cantigas como "Borboletinha" e "Atirei o pau no Gato". Lista de músicas bem escolhidas e coerentes com o clima que a trama quer passar.

Ao avaliar tudo o que foi ao ar até aqui, "Carinha de Anjo" é uma boa novela. A audiência não tem sido tão alta em comparação à estreia, o que é normal para um folhetim de pegada mais infantil que sucedeu duas novelas com pegadas mais adolescentes. Falhas existem, não teria como ser diferente. Mas percebe-se o empenho do SBT em deixar o desleixo conhecido em sua dramaturgia de lado. Até agora, a novela tem um bom ritmo, e a torcida é para que o SBT não invente de esticar a trama como fez com as anteriores, e que prejudicou a história das mesmas com longas barrigas.
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