terça-feira, 27 de dezembro de 2016

"Nada Será Como Antes" termina com final frustrante

A minissérie "Nada Será Como Antes" terminou nesta última semana. A produção estreou cercada de expectativas, porém não foram poucos os comentários de que deixou a desejar. De certa forma, isso não deixa de ser uma verdade.

Estreou sobre grande expectativa, principalmente por aqueles que são apaixonados por televisão. Seria uma grande oportunidade de mostrar um pouco a história — tão rica — do veículo no Brasil. Era previsível que tudo fosse contado de uma maneira mais "romantizada" até pelo próprio enredo apresentado (originalmente, era para contar a real história da TV, mas isso não aconteceu), mesmo assim seria interessante de se ver.

E de certa forma foi legal ver como alguns acontecimentos reais foram inseridos na história mesmo algumas incoerentes com a época. Como as novelas inicialmente transmitidas ao vivo, as transmissões via satélite, a chegada do VT e os incêndios supostamente criminosos que devastavam os estúdios na época. Porém, o que deveria ter sido o mote principal, apenas serviu como pano de fundo. E quem esperava ver a história da TV ser melhor contada, se decepcionou.

O grande destaque (senão o único) foi o verdadeiro folhetim que envolveu o casal principal Saulo (Murilo Benício) e Verônica (Débora Falabella)  À principio fraca e pouco atrativa, mas que aos poucos mostrou todo o potencial. É verdade que a história tinha uma pegada clichê, mas bastante envolvente e cheia de reviravoltas. Um ponto interessante, é ver como a produção claramente bebeu da fonte da série "Mad Men". Saulo era um homem criativo, inteligente e visionário. Mas egoísta ao extremo, hipócrita e péssimo nas relações pessoais. Praticamente um Don Draper (Jon Hamm) brasileiro.

Mas sem sombra de dúvidas quem deu um show foi Débora Falabella. Verônica foi uma personagem riquíssima. Uma mulher à frente de seu tempo, que enfrentava todas as adversidades e à todos os sofrimentos (que não foram poucos) de cabeça erguida. Débora teve uma atuação incrível. Incorporou o papel com maestria. A verdadeira dona da minissérie.

E foi por isso que o final da personagem foi a maior frustração. Era previsível que ela e Saulo terminassem juntos. Estava tudo bem claro desde o começo. Mesmo assim foi lamentável ver uma personagem independente, moderna e segura, que evoluiu com o tempo e que passou por tanta coisa, ter que voltar de bom grado para o homem que foi responsável por grande parte de seu sofrimento. Saulo foi egoísta durante a trama inteira, não evoluiu, não foi punido pelos seus atos (muitas delas covardes), e teve um final feliz.

Outro ponto extremamente decepcionante foi o plot envolvendo Beatriz (Bruna Marquezine), Otaviano (Daniel de Oliveira) e Júlia (Leticia Colin). Apresentada como o grande chamariz e com a pretensão de ser algo bem ousada, se mostrou uma história morna e pouco atrativa. Andou em círculos durante boa parte dos capítulos Era notável a evolução da Bruna como atriz, tanto que a personagem crescia nas cenas maravilhosas com a mãe Odete (a também maravilhosa Cássia Kis).

A personagem ter sido morta foi uma reviravolta interessante para a história. Assassinada por Davi (Jesuíta Barbosa, ótimo). O problema foi que vimos mais uma vez Jesuíta fazendo o mesmo personagem que ele fez em "Justiça": o de namorado possessivo que assassina seu par. Foi um desleixo enorme da direção da Globo deixar isso acontecer. É verdade que a minissérie de Guel Arraes foi gravada antes da de Manuela Dias. Mesmo assim isso poderia ter sido visto.

Julia era uma personagem que merecia um espaço maior. Tinha um dos perfis mais interessantes, mas se resumiu ao triângulo amoroso com Beatriz e seu irmão. Porém Letícia Colin esteve ótima e suas cenas no último capítulo foram sensacionais.

A minissérie aproveitou para debater questões que existem até hoje tanto na TV Brasileira quanto na sociedade, mas ficou devendo nisso. Rodolfo (Alejandro Claveaux) era o galã principal da TV Guanabara, mas que esconde sua homossexualidade. Um tema interessante de se abordar mas que não aconteceu, simplesmente porque o personagem virou um figurante. Sua relação com Aristides (Bruno Garcia) que era insinuada desde o começo só foi mostrada no final. Aliás, Aristides foi outro que pouco apareceu, serviu de "escada" para Saulo. Mas o final da dupla foi bem interessante e inesperada.

Já Péricles (Fabrício Boliveira) serviu para abordar a falta de oportunidades para negros na televisão (algo que existe até hoje). Proporcionou boas cenas, porém o debate sobre o racismo ficou superficial demais. Outra coisa que ficou devendo.

Mesmo com o final decepcionante, foi uma ideia bem interessante usar a minissérie para anunciar as novidades da Globo para 2017. Saulo apareceu no estúdio de sua emissora para falar dos planos e sonhos para a TV do futuro. Enquanto o "futuro" era anunciado com as novas novelas e minisséries e com as novidades dos programas de variedades. Deu um aspecto diferente e até surpreendente.

Por fim, "Nada Será Como Antes" foi uma minissérie com uma ótima proposta e com bons momentos, mas que pecou pelo mal desenvolvimento e pelo decepcionante final. Tal como "Supermax". Dois projetos que mostraram como a Globo está empenhada em turbinar sua dramaturgia para além das novelas. A torcida é para que a emissora continue apostando nas séries e minisséries e que aprenda com os erros.
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