segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"Novela - 65 Anos de Emoções", mais um ótimo programa.da TV Cultura



A TV Cultura que sempre trás ótimas atrações, nos presenciou nessas últimas oito semanas com mais um incrível. O especial "Novela - 65 Anos de Emoções".A série foi produzida em parceria com a Hergus Empreendimentos Culturais, que também produziu em parceria com o Viva os interessantes "Damas da TV" e "Grandes Atores".

"Novela 65 Anos" contou toda a trajetória 65 anos da telenovela no Brasil. Começando com as primeiras novelas ao vivo a partir de 1951, até os dias de hoje. O apresentador Atílio Bari se saiu ótimo na condução, Demonstrou credibilidade ao mesmo tempo em que apostou em uma linguagem leve e simples. Com uma edição competente, a atração tratou de trazer informações claras sobre o assunto ao público sem ser sisudo ou sério demais.

Ao final, o programa mostrou-se uma grande homenagem aos profissionais da teledramaturgia, tanto os pioneiros no passado, quanto aos do presente. Muito diferente do especial "TV 60" exibido pela TV Brasil em 2010 e reprisado no Canal Brasil com o nome de "TV no Brasil", que apesar da boa proposta, pecou pela péssima e amadora edição e pelas informações rasas.

Não é a primeira vez que a Cultura homenageia a TV Brasileira.  Em 1979, produziu o especial "A História da Telenovela", um documentário que mesclava cenas de bastidores de novelas da época e imagens de arquivo. Inclusive, muitos dos depoimentos deste, foram usados no programa deste ano. No ano seguinte exibiu o TV Ano 30, marcada pela vinheta sensacional onde os logos das emissoras da época se "apresentavam" juntos ao som de "Saludos Amigos".A tradição continuou em 1990 com "40 Anos de TV".

O especial da Cultura acertou ao fazer uma cronologia bem feita dos acontecimentos, com a organização dos episódios. O primeiro episódio serviu como um prólogo, contando a história dos clássicos teleteatros, predecessores das telenovelas, falando um pouco sobre como era fazer TV nos anos 50 e suas dificuldades. Já o segundo foi focado totalmente na TV Excelsior e de sua importância para a evolução da TV no Brasil, trazendo produções históricas como "2549-9 Ocupado" (a primeira novela diária) e "Redenção" (a novela mais longa da TV Brasileira). O programa foi muito feliz em relembrar a trajetória do canal 9, já que muitos desconhecem a sua história.

Como foi muito interessante também contar a história da dramaturgia da pioneira Tupi no quarto episódio. Emissora de importância inegável para a TV tanto no Brasil, quanto na América Latina. A autora Ivani Ribeiro, merecidamente, teve sua trajetória mostrada no terceiro episódio. O quinto episódio mostrou o início modesto da Globo, que aos poucos se tornou a gigante nas novelas que todos conhecemos. Poucos conhecem o começo da "poderosa" nos anos 60 e é muito bom, aliás, a história da emissora é uma das mais incríveis e é muito bom que ela seja lembrada; E principalmente mencionar Gloria Magadan, Janete Clair e Dias Gomes. Grandes responsáveis pela ascensão.

Porém, o único ponto negativo da série recai no desenvolvimento mostrado do sexto episódio em diante. Com poucos episódios restantes e muita coisa para ser contada, a edição mostrou-se bastante corrida. As informações foram praticamente jogadas ao telespectador. Dancin Days, por exemplo, merecia um destaque maior, mas teve apenas um trecho de sua abertura exibida.  Isso se acentuou no sétimo episódio, que falou dos anos 80 e 90. Novelas como "Água Viva", "Vamp" e "Que Rei Sou Eu?" mereciam um maior espaço. Mesmo assim, foi muito bom terem mencionado as novelas da Manchete no final. Pois mesmo com pouco tempo de existência, a emissora do Bloch deixou sua marca na história.

Outro erro grava foi terem ignorado completamente "Malhação". A novelinha teen pode não ser uma grande obra prima, mas fez história na televisão. Há mais de 20 anos revelando novos talentos que depois fazem sucesso nas outras novelas. Isso poderia ter sido mencionado.

O último episódio, exibido ontem (Dia 27), encerrou com competência o programa. Destacando os autores da atualidade, a evolução do gênero e os atores que estão se destacando hoje em dia. Também foi merecido o destaque dado à dramaturgia do SBT, Record e Band. "Éramos Seis", "Vidas Opostas" e "Os Imigrantes" fizeram história, jamais poderiam ser esquecidas. E claro, não poderiam esquecer o último grande fenômeno "Avenida Brasil". Mas "Verdades Secretas" também poderia ter sido mencionado.

A série especial terminou de uma maneira linda e tocante. Tarcísio Meira e Glória Menezes, casal símbolo da teledramaturgia, aparecem se beijando. "Glorísio" foi "congelado" com o letreiro de "Fim". Belíssima homenagem. E simbolizando o igualmente belíssimo trabalho que foi esse programa.

Parabéns à TV Cultura, à Hergus Empreendimentos Culturais e à Atílio Bari pelo incrível projeto. Que mesmo com pouquíssimas falhas, que jamais prejudicaram o trabalho, tournou-se mais uma ótima produção produzida pelo canal da Fundação Padre Anchieta. Para os aficionados por televisão, "Novela - 65 Anos de Emoção" foi um programa obrigatório. Para quem não era, foi uma ótima oportunidade para conhecer uma história tão rica que é a da novela no Brasil.


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

"Rock Story" começa com boa história e ótimo rítimo

Nessa semana estreou "Rock Story". A trama das sete escrita por Maria Helena Nascimento estreou com a missão de manter os bons índices de "Haja Coração", novela cheia de erros mas que tornou-se um sucesso de audiência.

A sinopse que saiu na mídia, antes de estrearm dava conta de uma rivalidade entre dois cantores. Ficou a dúvida se essa história cativaria o público. Os teasers cuja frase era "Uma história de amor movida a música e uma história de música movida a amor" pareciam pouco atraentes à primeira vista.

Porém, qualquer ceticismo sumiu com a estreia da novela. O primeiro capítulo foi bastante movimentado, , a sucessão de acontecimentos prendeu conseguiu prender o telespectador. Não faltou enredo no primeiro e nem nos capítulos que se seguiram. O que poderia deixar o público confuso, mas felizmente não aconteceu graças a edição ágil e direção competente.

Maria Helena Nascimento, estreante principal, tem trazido uma história com os bons elementos de um folhetim necessários para o horário. Porém, com um texto muito mais maduro ao contrário das anteriores. A comédia romântica com requintes de pastelão passa longe. Usar a música como pano de fundo mostra-se uma ideia interessante e até arrojada, pois está sendo usada para fazer interessantes críticas sociais.

Colocar um personagem que é um completo anti-herói, é uma ideia arriscado. Uma vez que personagens assim não costumam agradar o público mais tradicional, que sempre prefere os tipos maniqueísta. Porém, Guilherme Santiago (Vladimir Brichta) é certamente o perfil mais interessante. Inconsequente e impulsivo, ele foge da linha mocinho sofredor mesmo passando por tantos perrengues como tal. Uma construção incrível. Brichta está impecável no papel. É ótimo vê-lo de volta nas novelas após um jejum de inacreditáveis 10 anos atuando em séries e minisséries. Construindo sua carreira e amadurecendo no vídeo.

A melhores cenas são aquelas que envolvem Gui com seu filho Zacarias (Nicolas Pratter). . Zac foi o filho que até pouco atrás Gui desconhecia, e agora se força a amadurecer. Ambos tem que se acostumar com a nova realidade em que foram colocados e os diálogos das cenas são sempre incríveis. Nicolas Prattes está ótimo como o garoto inconsequente.

Outro ponto interessante são as situações amorosas do protagonista. Assim como nas novelas anteriores, essa também tem um triangulo amoroso , e que deve movimentar torcidas fervorosas nas redes sociais. Gui e Diana (Alinne Moraes) rendem sequência incríveis juntos, e tem um ótimo entrosamento.  Porém Nathalia Dill não deixa nada a desejar como Julia

Também merece destaque o personagem de Rafael Vitti. O "astro pop" Leo Régis é uma verdadeira crítica social. Um cantor sem talento, imaturo, egoísta, fútil, e cheio de fãs cegas que fazem tudo por ele. Tocou o dedo na ferida sobre os artistas "fabricados" atualmente. E não é a toa que nas redes sociais, muitos internautas estão comparando ele à um certo cantor que vem passando por muitas polêmicas atualmente.

"Rock Story" traz um enredo simples, porém com um texto adulto e cenas empolgantes. É uma trama que promete muito e esperamos que a boa impressão se mantenha nos próximos meses. Começou com uma audiência razoável, nenhum fenômeno. Porém se formos comparar, "Totalmente Demais" começou com esses índices e terminou como um fenômeno. Nada impede que a novela atual também seja um sucesso, pois tem todos os ingredientes para tal.

domingo, 13 de novembro de 2016

"Superpop" desiste do "novo" e volta a apostar em polêmicas repetitivas

No final de 2015, o "Superpop" ensaiou uma reformulação. O programa ganhou um cenário dourado e amplo, Luciana Gimenez passou a receber convidados no sofá. Nomes como Carlos Alberto de Nóbrega, Rodrigo Faro e Cláudia Rodrigues foram entrevistados nessa "nova fase".

Era uma tentativa de tentar limpar a imagem da atração, que há anos era tomada por debates redundantes e infundados e entrevistas com subcelebridades que nada tinham a agregar. Unicamente com o pretexto de promover barracos na tela. Virou sinônimo de trash e apelação na TV Brasileira.

Porém, foi só virar o ano que toda a tentativa de "reformulação" foi por água abaixo. Os papos descontraídos e a nova proposta que parecia ser promissora deu lugar aos velhos debates bobos e entrevistas que não agregam nada à ninguém. Tudo em busca da audiência fácil. Acontecimentos com celebridades ou temas polêmicos de novelas do momento ganhavam longos debates. Os mesmos assuntos debatidos com os mesmos argumentos sem nenhuma novidade.

E isso piora quando o programa promove entrevistas ditas "polêmicas" com subcelebridades em quadros como o "Porta da Fama" e o "Máquina da Verdade". Cujos formatos já foram usados à exaustão na televisão brasileira. Desde o começo do ano já foram entrevistados personalidades como Andressa Urach, Gretchen, Mara Maravilha, Marco Feliciano, Geysi Arruda, Jair Bolsonaro, Agnaldo Timóteo, Babi Rossi, Léo Áquila, Thammy Miranda entre outros.

Nomes que já são figurinhas carimbadas na atração e que praticamente todo ano batem ponto no palco. E sempre respondendo as mesmas perguntas, as mesmas polêmicas, dando as mesmas declarações. Sem nenhuma novidade. Não é ruim que o Superpop aposte em um estilo mais popular, mas até o próprio público do programa já percebeu como eles tentam forçar "polêmicas" sobre assuntos que já se tornaram desgastados e que não tem mais nada de novo à oferecer. Só falta aparecer os naturistas, defendendo pela milionésima vez o direito que eles querem ter de andar pelados pelas ruas como sempre fazem no programa.

Luciana Gimenez é uma apresentadora que evoluiu nitidamente no vídeo. Protagonista de gafes e momentos desastrosos no início de carreira, atualmente ela demonstra maturidade e segurança. Uma prova disso é que ela se sai uma ótima entrevistadora no "Luciana By Night" (programa que deveria ganhar mais atenção da RedeTV!). Porém é um nome queimado, justamente por comandar um programa que atualmente vive no piloto automático.

É triste saber que um programa que ensaiou uma mudança positiva, voltou aos velhos vícios que o tornam uma atração de gosto duvidoso. E que a RedeTV! não se esforça em trazer opções novas e interessantes ao telespectador..

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

"Haja Coração" foi uma novela irregular que deu certo


"Haja Coração" se encerrou nessa semana. O remake de "Sassaricando", escrito por Daniel Ortiz, foi um grande sucesso na audiência. Chegando à superar os índices de "Totalmente Demais", também outro grande sucesso.

Fazendo uma análise geral, a trama foi basicamente à prova de erros. Trazendo situações amorosas clichês regadas com um humor rasgado quase pastelão. Algo que sempre dá certo no horário, e com "Haja Coração" não foi diferente. Que nunca fez questão de trazer algo diferente, apenas de entreter. Desde "Alto Astral" em 2014 que o horário tem sido reservado para tramas simples, calcadas no romance e no humor, e tem colhido bons resultados. O horário se revitalizou após um período de novelas pretensiosas que fracassaram na audiência.

É inegável que fazer um remake na TV brasileira é sempre um desafio. Além de correr o risco de ficar datado, é praticamente impossível de evitar qualquer comparação com a obra original, e da rejeição por parte daqueles que se mantém fiéis às memórias da primeira versão. "Haja" foi bem ao modernizar a trama e fazer mudanças na estrutura original de "Sassaricando".

Porém, havia um certo receio quanto à isso. Em "Sassaricando", a história de Aparício (Paulo Autran) era a principal da história, enquanto Tancinha (Claudia Raia) era a simples coadjuvande que roubou a cena na novela. Em "Haja Coração", Tancinha (Mariana Ximenes) foi a protagonista enquanto Aparício (Alexandre Borges) e a família Abdala ficou no núcleo cômico como coadjuvante. Ficou a dúvida se as aventuras amorosas da jovem feirantes seriam suficientes para aguentar o peso de uma história principal.

A "nova" Tancinha começou exagerada com seu sotaque italiano carregado. Isso foi justificado, mas mesmo assim passou o ar de algo datado. Porém, pouco a pouco, a personagem foi se desenvolvendo até de fato fazer jus ao posto de protagonista. E cabe salientar que Mariana Ximenes estava perfeita no papel, fazendo uma Tancinha com a própria identidade, sem qualquer comparação com a de Claudia Raia.

Assim como ocorreu com "Totalmente Demais", o triângulo amoroso entre Tancinha, Apolo (Malvino Salvador) e Beto (João Baldasserini) ganhou torcidas fervorosas nas redes sociais. Aponcinha e Betancinha. Porém, o triângulo que tinha um certo potencial, mostrou-se irregular sobretudo por Apolo. Um personagem íntegro e honesto, que moralmente era para quem deveríamos torcer. Porém, o caminhoneiro foi durante toda a novela um personagem irritante e grosseiro, cuja história própria era modorrenta e pouco atrativa. Carisma é a característica principal de um mocinho, e faltava isso em Malvino Salvador, cuja atuação limitada repetia as mesmas características já vistas em trabalhos anteriores.

Em contrapartida, Beto mostrou-se um personagem muito melhor desenvolvido. O publicitário metido que ficava dividido entre ser correto e fazer tudo para conseguir o que quer era um tipo que poderia facilmente cansar o público. Mas caiu nas graças por ser alguém divertido e com ótimas tiradas. Sendo defendido brilhantemente por João Baldasserini, que consolidou-se como uma das grandes promessas da teledramaturgia. Beto evoluiu, assim como fez Tancinha evoluir, fazendo com que as cenas dos dois fossem muito mais interessantes que as cenas "Aponcinha". Por isso, a torcida por "Betancinha" foi muito maior (e não acirrada como Daniel Ortiz entoava). Não só isso, Apolo conseguia ficar mais "suportável" formando par com Tamara (Cléo Pires), criando outra torcida: Apomara.

Mas no último capítulo, Tancinha ficou com Apolo (ao contrário de Sassaricando em que ela se casa com Beto). Final previsível e até esperado, se for analisar a maneira como o autor desenvolveu a história. Forçando uma vilania em Beto e um vitimismo em Apolo, o autor não disfarçou o favoritismo descarado ao personagem de Malvino. Deixando de lado qualquer preferência do público.

Erros e irregularidades também marcaram o núcleo dos Abdala. Teodora (Grace Gianoukas, sensacional) tornou-se a protagonista moral da trama em determinado momento, acabou morrendo. A perda foi sentida, o núcleo, antes promissor, tornou-se fraco e começou a andar em círculos. Tatá Werneck esteve bem como Fedora, melhorou sua dicção. Fedora fez um ótimo par com Leozinho (Gabriel Godoy, também ótimo), e apesar de suas histórias soarem bobas e irrelevantes, foi um casal divertido. Claudia Jimenez (Lucrécia) também estava ótima, mas pareceu pouco aproveitada. E Christina Pereita arrasou como Safira, remetendo à Fedora da primeira versão.

Outro núcleo que caiu nas graças do público foi o das três amigas Leonora (Ellen Roche), Penélope (Carolina Ferraz) e Rebeca (Malu Mader). "Leoneca" foi um divertido trio, mesmo andando em círculos em boa parte da trama. Ellen Roche teve ótimos momentos com a engraçada Leonora (com destaque para as hilárias cenas com Ana Paula Renault, que teve brilhante participação). Cabe destacar também o trabalho de Renata Augusto que brilhou como Dinalda.

Os casais formados também fizeram sucesso, como Berício (Rebeca e Aparício) e Penrique (Penélope e Henrique - Nando Rodrigues). O triângulo amoroso entre Giovanni (Jayme Matarazzo), Camila (Agatha Moreira) e Bruna (Fernanda Vasconcelos) também foi destaque. O público passou a torcer por Gimila, e Fernanda Vasconcelos teve um de seus melhores trabalhos de sua carreira com a vilã Bruna.

Porém, quem roubou de fato a cena foi o casal "Shirlipe". O romance entre a sofredora Shirley (Sabrina Petraglia) e o carismático Felipe (Marcos Pitombo) foi um verdadeiro "conto de fadas" e ganhou uma torcida quase unânime do público. Sabrina Petraglia tornou-se queridinha dos telespectadores, e Marco Pitombo tomou a melhor decisão ao voltar para a Globo. Pois jamais teria futuro na Record (correria o risco de fazer novelas bíblicas o resto de sua vida).

Shirlipe não só roubou a cena como também o protagonismo da novela. Tornaram-se o grande destaque quando as outras histórias já não prendiam mais a atenção de público. E vale ressaltar que essa história não fazia parte da original de Sassaricando. A Shirley originalmente foi uma personagem de "Torre de Babel". Assim como "Sassaricando", uma personagem coadjuvante teve mais destaque que os protagonistas. principais.

Também merece destacar Marisa Orth, que brilhou como Francesca. Um papel dramático, mostrando uma faceta pouco explorada da atriz. Chandelly Braz também foi competente como a vilã Carmela. Sua redenção após a mocinha insossa de "Geração Brasil". Já entre as atuações que deixaram muito a desejar, além de Malvino, está José Loreto. O ator viveu o mau-caráter e irrelevante Adônis. As caretas e o sotaque carioca mal disfarçado (a novela se passava em São Paulo) tornaram o personagem irritante e caricato. Uma versão mal feita do Darkson de "Avenida Brasil".

Haja Coração foi uma novela irregular, com erros visíveis. Porém deu certo ao apostar no clichê da comédia romântica. Por isso, esses erros não terão relevância para o público que acompanhou e amou a trama. Mesmo que Daniel Ortiz nitidamente fez uma trama pensando nos próprios gostos e vontades.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A (nova) invasão dos "caça-níqueis" e o retrato da TV Aberta atual

Todos os dias eles invadem a programação das emissoras. Impossível encontrar alguém que ainda não esbarrou com eles. O tempo passa e nada muda. Um apresentador, sempre jovem e comunicativo passa horas e mais horas convencendo o telespectador a ligar para o programa. O propósito é acertar o desafio, estampado na tela em letras garrafais, prometendo à quem acertar um prêmio altíssimo.

À primeira vista, parece uma ótima oportunidade para ganhar uma grana sem fazer muito. Isso é o que o programa sempre fala. Afinal, os apresentadores sempre bradam que não estão exigindo loucuras, né? Mas a realidade é bem diferente do que aparece na tela.

A saga do telespectador começa com a ligação, ele tem que participar de um demorado jogo de verdadeiro ou falso. O objetivo é pontuar o máximo para só aí poder falar ao vivo. E se você acha que a conta de telefone vai ficar cara com tanto tempo na linha, tenha certeza disso. Já que eles sempre usam o serviço 091, cujo minuto é muito mais caro que uma ligação normal (e o programa sempre fala que é o custo de uma ligação para celular em alguma cidade aleatória).

A pessoa fala ao vivo e acerta a tal palavra embaralhada. Mas não acabou por aí. Ele ainda tem que chutar uma sequência de números e/ou letras para só aí poder ganhar o grande prêmio com muitos zeros  Fazendo as vezes de uma loteria federal mais ordinária. O próprio programa entoa não ser um programa que precisa da sorte do telespectador, porém funciona como um jogo de azar dos mais previsíveis.

É assim que funciona os CallTVs premiados, apelidados no Brasil de "caça-níqueis" justamente pela sua proposta, fazer o público ficar o máximo possível de tempo na linha. Aqui, não faltam críticas e rejeição. Em sites da internet e redes sociais, reclamações pipocam acusando esses tipos de programa de fraude. Mas mesmo assim eles ainda existem, e atualmente estão ganhando cada vez mais espaço.

A Band atualmente exibe o "Game Phone" da EsoTV, que domina as tardes de segunda a sexta, e ainda derruba os índices do horário, marcando 1 ponto no máximo. Já a RedeTV! exibe o "Master Game" da Avatar Tecnologia, exibido após o A Tarde é Sua. Marcando décimos, derrubando a boa audiência conquistada por Sônia Abrão. E nas madrugadas do fim de semana, exibe o "Desafio Premiado" da G2P.

Nomes diferentes, produtoras diferentes, mas o estilo é descaradamente o mesmo. Há pouco ou quase nada que se diferencie um do outro. Apresentadores animados se utilizam da persuasão máxima para fazer o público participar do jogo. Seja em um cenário pouco atraente ou em um efeito de chroma-key duvidoso. Conteúdo, simplesmente não há. São horas do apresentador fazendo o mesmo discurso diariamente (e é nisso que eu invejo esses profissionais, pois convenhamos, não é fácil fazer isso).

O teatrinho é nítido. O apresentador ou apresentadora faz o papel de "amigo" do participante, quer que ele ganhe. Mas como não pode dar nenhuma dica, fica apenas na motivação. Ele (ou ela) passa um longo tempo conversando com o diretor invisível. Ele, sempre o malvado, que dificulta a vitória do participante e se recusa a dar dicas para o tal desafio. Apresentador e diretor discutem por um longo tempo, vira uma novela. Tudo em meio a efeitos sonoros de risada, choro e apitos.

Do nada, a alegria para. A coisa fica séria. A motivação vira chantagem emocional. O apresentador fica revoltado por ninguém acertar o desafio ou pelo participante que desliga o telefone na cara deles. Nesse momento surgem frases do tipo "Você não está me ajudando, participante", "Eu estou pedindo alguma loucura?", "Você não está querendo mudar sua vida", que fazem o telespectador sentir-se culpado e não dar trela para o apresentador que ficou chateado por não dar vitória à ninguém.

Mas lógico, o apresentador nunca ficaria parado o tempo todo lá. Há os intervalos (a desculpa é que ele vai lá falar com o diretor pra dar uma dica), e enquanto isso, uma música épica toca enquanto a câmera foca no cenário com o desafio estático na tela. O apresentador volta, e tudo continua. Vem as ligações, e a parte mais bizarra de todo o show. A palavra embaralhada está nítida para quem quiser ver. Um leigo poderia adivinhar aquilo. Mas os que ligam ou erram a palavra (repetindo as mesmas) ou dizem que não sabem (mesmo tendo passado um bom tempo no telefone, aparentemente). O que torna toda e qualquer procedência, extremamente duvidosa.

Esse tipo de programa já é conhecido do público. Muitos podem nem saber, mas esse formato já está impregnado na televisão brasileira há mais de 10 anos. Os CallTVs surgiram na Europa e se espalharam pelo mundo. Até hoje vários países exibem como Portugal, Argentina e México.

No Brasil, tudo começou em 2004 com o histórico Insomnia, exibido nas madrugadas da RedeTV!. Porém, no programa apresentado por Jackeline Petkovic e Gabriele Serafim ao menos divertia. O quarteto interagia, brincava e improvisava. O programa também exibia animações entre os desafios. Trazia entretenimento, ao contrário dos que vieram anos depois, calcado unicamente no suspense barato.

Insomnia terminou em 2007, e a partir daí outros foram lançados. Dentre os mais conhecidos estão o "Hyper QI", "Quiz TV" e "A Chance". Todos controversos e de extrema rejeição, mas eles permaneceram. Tanto que entre 2010 e 2011, houve o auge. As emissoras menores entupiam suas grades com as famigeradas atrações. Seja levando "Quiz" ou "Game" no nome, ou com cenários diferentes.

Após isso, ficaram fadados a emissoras pequenas, quase irrelevantes aos olhos do telespectador. Até a crise atingir a televisão, e eles voltarem com tudo aos canais maiores. Foram várias as vezes em que a justiça mandou tirar do ar esses programas, mas passam alguns meses e eles retornam, e com o mesmo discurso que nunca muda.

O único ponto positivo disso tudo talvez, seja a revelação de novos apresentadores. De vez em quando, nomes bons surgem como Gabriele Serafim, Sabrina Petrarca, Roger Furlan, Caio Diniz, Celeste Zeminian, entre outros. Mas antes mesmo que eles possam ganhar oportunidades nas emissoras, acabam se queimando. 

Tudo isso só reforça um triste fato. As emissoras de TV aberta atualmente se tornaram verdadeiras locadoras de horário. A produção própria e geração de empregos estão morrendo aos poucos. Com o pretexto da crise, os donos preferem garantir a renda da maneira mais fácil, desrespeitando os telespectador, vendendo os horários de seus canais livremente e lavando as mãos em relação à qualquer responsabilidade. Emissoras como Rede21, Ideal TV e RBI por exemplo, simplesmente subvivem na tela.

E quanto às autoridades, elas não fazem nada. Mesmo sendo proibido por lei e se tratando de concessões públicas. Para eles, não vale a pena.

Enquanto isso, os "caça-níqueis" vão continuar, e não esperem qualquer intervenção. Os idealizadores continuarão a enfiar goela abaixo os velhos discursos de persuasão em meio a um show amador com apresentadores e equipe sendo forçados a levar todo o circo adiante. E o pobre telespectador mais leigo e ingênuo continuará caindo nas repetitivas promessas.
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